8 de julho de 2005
É preciso mudar a água da banheira
pra não ver só sujeira na hora de mergulhar.
Mudar é preciso
Raquel Medeiros
É preciso mudar
As coisas na sala
O choro da alma
No tom da fala.
É preciso mudar
O medo do risco
E do cisco
No olho do vício.
É preciso mudar
A cara sem cor
A pancada da dor
Na queda do amor.
É preciso mudar
A apatia insistente
A melancolia latente
Da poesia insuficiente.
É preciso mudar
O enredo
De ver-se o mesmo
No esforço a esmo.
É preciso mudar
A qualidade do olhar
E a vontade de sonhar
No ato de se dar.
É preciso mudar
O volume da voz
E a força dos nós
Na hora de ser “nós”.
Sobremesa: "Tudo aqui vai como um rio farto de conhecer os seus meandros:/ as ruas são ruas com gente e automóveis/ não há sereias a gritar pavores irreprimíveis/ e a miséria é a mesma miséria que já havia.../ e se tudo é igual aos dias antigos, apesar da Europa à nossa volta, exangüe e mártir/ eu pergunto se não estaremos a sonhar que somos gente/ sem irmãos nem consciência, aqui enterrados vivos/ sem nada senão lágrimas que vêm tarde, e uma noite à volta/ uma noite em que nunca chega o alvor da madrugada..." (Adolfo Casais Monteiro)
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