2 de novembro de 2005




















"Para a mesa que vai ser posta,
para você o que você gosta: diariamente."
(Marisa Monte e Nando Reis)


* Outdoor da Calvin Klein. Foto por Steven Klein.

As marcas do amor
Raquel Medeiros

Coca-cola de segunda à sexta. Uma taça de Merlot no sábado à noite, antes do prato principal, naquele restaurante italiano. Mais tarde, uma cama comprada na Tok&Stok, com lençóis de seda para beijos altos e tato apurado. Chet Baker no nosso Phillips. Domingo de manhã, maçãs e morangos comprados num pequeno supermercado perto de casa. À tarde, ver um filme no nosso Sony. Preguiça. Gula. Cobiça. Luxúria.

Um machucado no peito. Merthiolate spray na ferida. Já vem com sopro. Não dói, mas também não sara. Não pára. Não cala. Palavrões retirados de um texto de Millôr, devidamente cuspidos no rosto protegido com Sundown 15 FPS. Protege do sol, mas não protege do incêndio.

Tristeza e decepção afogadas em garrafas de Johnnie Walker Red e um maço do novo Free. Agora free. Agora só. Nenhuma mensagem. Nenhuma chamada não atendida no Siemens MC 60. Portishead ao vivo em Roseland. Tragos entre agudos e graves. Saudade aguda. Tristeza grave. A solidão do gato de um livro de Cortázar. Corta os pulsos com Gillette cega. Esgota-se como um conta-gotas. Não morre. Estanca o sangue com um coagulante da Roche. Estanca a vida, mas não estanca a dor. Adormece com dois comprimidos de Neozine. Acorda depois de três dias, calça um par de Havaianas, porque depois de tanto cinza, fez um dia de sol.

Sobremesa: "Para brincar na gangorra: dois". (Marisa Monte e Nando Reis)

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