11 de agosto de 2009


às vezes eu não sei quando é chuva ou quando é choro.

Acordar

Sonhar com você no inverno
é como aguçar a saudade
é como temperar com pimenta moída
e em seguida secar as lágrimas
com as mãos ainda sujas.

Ardência que chuva nenhuma ameniza
vontade grande e grave.

Te escrevo cartas com perfume e música
e os barcos que construo com elas
descem as ruas sem encontrar teu porto
à deriva, sigo esperando o verão.

Sobremesa: "Sossegue coração/ ainda não é agora/ a confusão prossegue/ sonhos a fora". (Paulo Leminski).

2 de junho de 2009


"Revolto-me, logo existo". (Albert Camus)

(visita)

O fim da frase: "você tem fogo?"
Nina Lemos

- Você tem fogo?

Quem na vida nunca usou essa estratégia de paquera? Ela sempre foi muito simples e simpática. E você nem precisava fumar. Podia fingir, dar uns tragos e depois jogar o cigarro fora. Ou nem acender. Essa era apenas uma maneira de chegar em alguém. Bacana. E também uma forma de fazer amigos.

Quantas amizades não foram feitas na noite com essa perguntinha simples? Muitas. Quantas histórias de amor não começam com “então, ele foi me pedir um cigarro”. Pronto. Tudo isso acabou. Em breve ninguém mais vai poder fumar dentro de nenhum lugar em São Paulo. Nem no show de rock de um pretê que te deixa nervosa. Nem lá pelas cinco da manhã na boate, quando você não sabe mais o que fazer com as próprias mãos depois de cinco conversas com um bonitinho e “nada dele te beijar”.

Também acabou a cumplicidade da ala de fumantes. “Onde vamos sentar?” “Ah, lembrei, você também fuma”. Ou mesmo a gentileza do homem que não fuma mas aceita a área de fumantes só para nos agradar. Acabou. Não existirão mais áreas de fumantes em restaurantes.

E os cafés? O que serão deles? O que fazer naquela hora em que você acaba de beijar o cara pela primeira vez e está decidindo se vai ou não para a casa dele? Quer dizer, você acaba indo sempre, mas é bom fumar um cigarro para pensar.

E as discussões? E agora? Como vai ser? Melhor nem pensar nos pés na bunda. Imagina levar um pé na bunda em um restaurante e não poder fumar na hora em que ele diz que “veja bem, melhor a gente ser mesmo só amigo”. E no Studio ou coisa parecida, depois que aquele seu caso acaba de agarrar outra na sua frente? Desespero.

Cigarro faz mal pra caramba. Mas já tem muito texto falando sobre isso hoje na Internet. O que lamento nesse espaço é que nunca mais, no meio do clube, ouvirei a frase: “Você tem fogo?”. Triste. (extraído daqui)

Sobremesa: "Desconfia dos que não fumam". (Mário Quintana)

29 de maio de 2009

Para inspirar o fim de semana e esperar a vinda deles.

14 de maio de 2009

Très chic. Très sexy.
Diane Kruger e Quentin Tarantino.

5 de maio de 2009


O céu de Belo Horizonte depois de uma manhã
de muita chuva, relâmpagos e trovões.


Aristóteles,

Já faz tanto tempo... acho que enferrujei. Desaprendi.
2008 foi um ano de ponderações. Meses de vai-e-vem, de puxa-encolhe. Meses de alegria intensa, mesmo no trabalho desgostoso. Meses de uma tristeza imensa, que insistia em andar espremida na minha bolsa, para todo canto. Dores acentuadas, falta de apetite, insônia.

Eu penso demais. E fui descobrindo aos poucos que isso também dói.

Uns dias eu quis ser outra – menos ansiosa, teimosa. Mais tolerante e serena.
Uma paralisia no meio de tudo isso me fez pensar que é preciso parar (sem trocadilho). Mastigar bem ajuda a digestão. Olhar com calma diminui o erro.

Rir mais, sem reserva. Chorar mais, sem vergonha. Ser feliz sem culpa.
É preciso amar mais, antes que o amor acabe.

E as alegrias também foram muitas. Aprendi muito – isso nem sempre é ser feliz. Mas aprendi coisas importantes e que estavam escondidas no embaço da vista, pelo cotidiano, pela luta diária pra levantar, pela espera.

Amigo, talvez eu tenha estado mais ausente da mesa do bar, da platéia. Mas é que a vida andava tão boa na sala dos amigos, no meu sofá, nos meus discos e livros, nos braços dele.

Perdi uns jogos, ganhei malícia para outros. Saber deixar é tão importante quanto lutar pelo que deve ficar. Deixei muitas coisas. E tenho lutado diariamente por outras.
E é tão bom ver a vida seguir. Meu sobrinho nasceu, uma semana exatamente antes do Natal. E eu que sempre ficava melancólica e um tanto cansada do ano, dessa vez me vi mais leve. E com uma esperança boa – mesmo que às vezes tola – no peito.

A vida segue Aristóteles, e isso independe se você corre com o rio ou fica à beira contemplando a vida alheia. Então, se é assim, quero ser sujeito, correr junto com o leito, me deixar levar, me deixar ser. Não me interessa a vida alheia. Aprendi que se houver felicidade à minha volta – aos meus e aos outros – cada um cuida de si. Porque a gente começa a desejar o mal alheio quando tem muito dentro da gente, num ato desesperado de disseminar o que a gente não consegue se livrar.
Eu quero mais é ser feliz. E chorar, e ficar cabreira, mas no fim do dia ouvir minhas músicas, olhar o meu bem e ser feliz. E desejo isso pra você também.

Sobremesa:

18 de março de 2009

Two For The Road

Ann e Cooper se conheceram e se separaram ainda nos tempos de colégio. Mas não era uma história qualquer para terminar junto com o ano letivo. Eles tinham o que chamamos de química e partilhavam afinidades e sonhos.

Dez anos depois, eles se encontram e resolvem seguir juntos numa viagem de carro em busca dos seus sonhos. Uma chance única e última para tornar realidade os devaneios lúcidos de antes.

Essa é a história do mais novo projeto do produtor Marc Collin (produtor também do Nouvelle Vague), chamado Two For The Road, numa referência ao filme homônimo de 1967, dirigido por Stanley Donen, estrelado por Audrey Hepburn e Albert Finney. Nos vocais, a cantora dinamarquesa Katrine Ottosen e o cantor ítalo-americano Valente (Ann e Cooper, respectivamente).

Um disco para ouvir a dois ou a sós. Deixo aqui uma espécie de clipe da música que leva o nome do disco. No vídeo, cenas do filme de 67.

Dá vontade de viajar a dois. Uma delícia.

6 de março de 2009


foto por Evgen Bavcar

Ladeira abaixo

Olinda. Domingo de carnaval. Meio-dia. Tenho uma coisa pra lhe dizer, “acabou”, disse ele. Ela não entendeu, e sorrindo, pediu que ele repetisse. “ACABOU”, e sumiu em meio a super-heróis e palhaços. Ela parou por uns segundos e foi levada pela multidão. Me segura que senão eu caio. Uma rainha de copas destronada, sedenta por cortar a cabeça de alguém. Nas Vassourinhas as pessoas enlouquecem. Levou um tombo que a fez ficar descalça. Não faltava mais nada.
Onde fica a minha casa? Pensou. E na confusão, lembrou que estava hospedada na casa de um tio dele. Não voltaria. Não é vantagem. Deixaria suas roupas e a esperança de que ele sentisse um tanto de remorso. Confete, serpentina, suor, choro, chuva, calor, polícia fantasiada e ladrão sem fantasia, mas cheio de imaginação. O frevo doía como ferida aberta. Alegria demais. Cores demais. Beijos em muitos e aos montes. No meio da multidão, espremida entre princesas, fadas e demônios. Tanta gente e ela tão só. É de amargar.
Tonta e desorientada, começou a cantar – num ritmo fúnebre - enquanto tentava abrir espaço entre os foliões: Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor.

Sobremesa: "Na frente sigo eu/ levo o estandarte de um amor, o amor que se perdeu no carnaval/ lá vai meu bloco, lá vou eu também/ mais uma vez sem ter ninguém". (bloco da solidão)