31 de janeiro de 2012
tiny dancer in my hand
Marilyn de Warhol
Caixa de lembranças em mãos. Estava disposta a rasgar tudo, queimar pedaços pequenos até que virassem uma poeira leve, porque eu me sentia leve. Que engano.
De repente encontro os olhos da Marilyn. Eles me seguem, cercam. Um mistério de pássaros livres escondidos embaixo da pálpebra, trazendo no bico uma chuva de papéis picados, coloridos por nós.
Eu me perco sem volta. Ponho a caixa de lado e me concentro nem sei mais em quê. Impossível esquecer aquelas linhas onde tantas vezes conseguimos desenhar uma ponte. Agora, embaixo dela, mora uma água turva, parada. Em mim, mora uma vontade de aterrar tudo, pra não acumular mosquito e pra evitar que vez ou outra eu queira pular e nadar sem rumo.
Os seus olhos também se perdem, longe dos meus. Tento ler se ela sabe que são certeiros, infalíveis, mesmo quando escapam.
Eu não consigo escapar e à noite evito encará-los, pois não me deixam dormir.
Mais um gole de vinho e ela continua inteira. Já eu, tenho três rasgões no peito.
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