25 de abril de 2010


muso para sempre.

Vol. 1

Eu que te amo e por vezes resisto, sigo me identificando com os cronópios. Os calos nos pés decorrentes do meu descuido, as olheiras-fruto das nossas conversas insistentes madrugada afora. Nem sempre é adequado, perdemos o ônibus com a cabeça já perdida. Nos damos mal. E nessa hora, sempre aparece um fama, eu te disse. Não importa. Seguimos entrando nos bares onde a música convida, dançando nossos próprios passos, descompassados. Bebemos vinho e falamos sobre saudades, pessoas distantes, poemas e histórias inúteis.
Os famas sentados no bar riem de nós que rimos de nossos tropeços. Eles não sabem o que é ter ressaca, nunca ficam bêbados, nos condenam e seguem para suas casas. Um banho e um copo de leite quente antes de dormir.
E nós, continuamos na rua, vagando pelas calçadas do centro, rodopiando e cantando nossas canções preferidas. Depois sentamos num balcão, tomamos um café para curar nossas dores, a bebedeira, a saudade, as cicatrizes da guerra e os amores que perdemos pelo caminho.
No dia seguinte, os famas acordam cedo, tomam café com frutas e pão quente, enquanto lêem seus jornais na ordem dos cadernos. Nós cronópios acordamos sem saber que horas são, colocamos um vinil na vitrola e nos emocionamos quando toca aquele refrão. Não seguimos roteiro, a vida é que nos segue, encantada com nossos olhos de novidade sobre o horizonte, essa linha nunca reta pra nós.


Sobremesa: "Por isso ganhamos o direito de falar assim um com o outro, agora que sem a mínima possibilidade imaginável acaba de me chegar sua resposta, sua própria garrafa-ao-mar espatifando-se nos rochedos desta baía para me encher de uma delícia sob a qual pulsa uma espécie de medo, um medo que não aplaca a delícia, que a torna assustadora, situando-a fora de toda carne e de todo tempo como você e eu sem dúvida sempre quisemos, cada um à sua maneira". (Julio Cortázar)