28 de junho de 2006


"Gossip face" - Muntsa Vicente

Um trago de amor
Raquel Medeiros

Me faça acordar com beijos curtos porém gentis.
Não importa quantos cigarros ficaram no cinzeiro na última discussão. Não me venha com tratamento ou terapia, que minhas fobias solto na fumaça. Pouco importa as cicatrizes físicas. Amor sem dor não rima.

Amor nem sempre é nuvem no meio do caminho. Às vezes é pedra nos rins. É mal líquido que escorre entre os dedos, e tão sólido que pode matar se cair repentinamente no coração desavisado.

Perdoa se nas palavras o amor parece pouco, parece parco. É louco, e loucura não se explica. Se assume ou se nega. É pegar ou largar. É delícia e dor na mesma proporção. E se não há retribuição, é melhor calar.
Me faça dormir com beijos longos porém febris.

Sobremesa: "Pergunte pro seu Orixá/ amor só é bom se doer". (Vinicius de Moraes e Baden Powell)

1 de junho de 2006


Drawing for canvas in bar - Elph


Relato passado de angústia presente
Raquel Medeiros

Tenho medo das tuas mãos. De ler nelas verdades sobre mim. Sobre nós. De ter meu futuro ironicamente traçado nas tuas tortas linhas.
Nunca fui reta. Nem sempre estive certa. De alguns buracos não consegui desviar. Algumas quedas me recusei a evitar.
Tive doces e amargas surpresas. Jantares meticulosamente preparados pra ninguém, e convidados que me surpreenderam quando tinha um uníco prato de sopa rala pra oferecer.

Tenho medo dos teus olhos. De ver verdades sobre mim. Sobre nós. De ter a minha face assustadoramente refletida nos teus vidros escuros.
Esse teu eterno espelho de mim, que tentei encobrir com lençóis grandes e que, ainda assim, revelaram cada cicatriz, física e emocional.

Cravo a face no travesseiro pra abafar o choro. Não descanso. Canso dessas idas e vindas. Dessas despedidas. Choro por egoísmo, que altruísmo é sempre tarefa do vizinho.

Não escrevo coerentemente. Não ando coordenadamente. Não penso racionalmente. Essas palavras saem feito sangue que não estanca, assim como esses passos tortos.
Esses pensamentos impulsivos, impossíveis de descrever.

Sobremesa: "Cresce o ponto bem no meio do amor seu centro/ assim como o que a gente sente e não diz cresce dentro". (Paulo Leminski)