5 de dezembro de 2010



Anna Karina em Le Petit Soldat, do Godard.


Domingo


Manhã de domingo assim, com o céu tão azul, só aumenta a melancolia.
Na vitrola tudo é melodia de saudade, cheiro de um encontro que não vai acontecer, mesmo com olhos e boca salivando.
Não consigo continuar aquele livro, meus pensamentos vão se misturando aos capítulos deixando tudo confuso e sem propósito. Graciliano que me perdoe, mas hoje não dá.
Nem consigo falar sozinha. Os espaços grandes demais. O que digo num cômodo, no outro se perde. A solidão e o silêncio me censuram.

Vou lavar a louça, fazer almoço para encher um único prato, sem o privilégio do tempero da fome. Qualquer coisa serve.
Depois vou rever os filmes de Godard que ganhei de uma pessoa querida. Vou deixar aquelas mulheres falarem por mim e fingir que hoje nem é domingo, que esse céu azul não me incomoda e que a saudade não me comove.

Tomara que funcione.


Sobremesa: "E eis que o anjo me disse, apertando a minha mão entre um sorriso de dentes: vai bicho, desafinar o coro dos contentes". (Jards Macalé)

4 de dezembro de 2010



Entre a Hora e a Amélia.


Versinho de verão

O corpo sob esse sol fica sem sombra
Tudo ferve, transpira, esbarra, confunde
Em casa, pés no chão, banho frio, fruta, cigarro
Já noite alta, a pele ainda quente anuncia: meio-dia.


Sobremesa: Everybody's got the fever, that is something you all know. Fever isn't such a new thing, fever started long ago.