Michelle Pfeiffer e John Malkovich no filme
Ligações Perigosas.
It’s a fire
Raquel Medeiros
Passou a língua na nuca dele como se estivesse lambendo uma gota de sorvete que escorreu pela casquinha. Delicioso aquele pescoço. Visão do paraíso com o ardor do inferno. Quarenta graus na sombra.
Música no vinil. Os estalos do disco encobriam os beijos altos. Festim de palavras indecentes, ditas em tons agudos e graves. Melodia ascendente de gemidos e sussurros.
Falta de senso. Incenso. Incêndio.
Ela derretia com o toque dele como uma pintura de Dali. Goya. Glória.
Líquida e salgada, provocava ainda mais sede. E ele a bebia como um vinho de boa procedência, guardado na melhor adega, para a ocasião perfeita.
Lutam como se o prazer do outro fosse um território a ser explorado à exaustão. Investigação com indicações óbvias. Sêmen. Suor. Saliva. Sorriso.
Embriagados. Extasiados, se aninham nos braços um do outro. Descansam. Olhos nos olhos. Insones. Insanos. O desejo não cessa. Recomeça a música. Provocaram rimas. Gozaram versos. E quando o sol já aplicava tons claros no esmalte preto da noite, eles tinham incontáveis poesias desvairadas. Incansáveis odes proclamadas. Inspiração e ansiedade na espera de mais uma madrugada.
Sobremesa: "Eu faço samba e amor até mais tarde/ e tenho muito sono de manhã." (Chico Buarque)
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