26 de novembro de 2005




















Júlio Cortazar e um de seus gatos.

Rayuela - trecho (capítulo 5)
Júlio Cortázar

Essa vez, e só essa vez, excitado como um matador mítico para quem matar é devolver o touro ao mar e o mar ao céu, maltratou a Maga numa longa noite da qual pouco falariam mais tarde, fez dela Pasífae, dobrou-a e usou-a como a uma adolescente, conheceu-a e exigiu-lhe as servidões da mais triste puta, magnificou-a em constelação, teve-a entre os braços cheirando a sangue, fê-la beber o sêmen que corre pela boca como um desafio ao Logos, chupou-lhe a sombra do ventre e do sexo, erguendo-a depois até o seu rosto, para untá-la de si mesma, numa ótima operação de conhecimento que só o homem pode dar à mulher, exasperou-a com pele e pêlo e baba e queixumes, esvaziou-a até o máximo da sua magnífica força, lançou-a contra um travesseiro e um lençol e sentiu-a chorar de felicidade contra seu rosto, que um novo cigarro devolvia à noite do quarto e do hotel.

Sobremesa: "Nem tudo estava perdido/ que dos dois dependia tentar um encontro legítimo/ agora ela conhecia as regras do jogo/ talvez nos fossem favoráveis dado que não faríamos outra coisa senão nos procurar." (Júlio Cortázar)

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