6 de fevereiro de 2006


Masks in Venice - Evgen Bavcar

How sexy is the silence?
Raquel Medeiros

A primeira vez que o vi foi num desses bares de luz pouca, com meninas de minissaia sentadas em máquinas de pinball quebradas. Som alto e ruidoso.
Dei três voltas, tomei quatro doses de tequila, dei três espirros e sentei aliviada e corajosamente na mesa em que ele estava. Sem dizer nada, levei um cigarro à boca e ele acendeu, sem hesitação.
Mal dei o último trago e ele me puxa para o centro do bar. Dançamos. Sem pisões no pé. Sem calos. Sem uma única palavra. E eu que sempre fui oxítona de má fé, me senti à vontade naqueles braços. Gargalhei e encarei-o. Sem ensaios.
Encaixe perfeito de lábios, de línguas. De trato e de tato. De olfato e paladar. Algumas voltas e eu não enxergava mais ninguém. Não ouvia nada além da música. E antes que minhas pernas cansassem, estávamos deitados em lençóis que eu não conhecia, mas reconhecia o cheiro neles. O meu e o dele. Não sabia seu nome, se tinha emprego ou não, nem mesmo se aquela era a sua cama, mas naqueles lençóis só haviam resquícios de nós dois.
Ele foi embora sem que eu soubesse se aquele silêncio duraria depois da música. Sem saber se nos apaixonamos.
Tantas outras vezes cruzei as portas daquele bar. As mesmas máquinas de pinball que nunca consertam. A mesma tequila barata. Mas não havia silêncio.
Dancei. O corpo movimentando-se conforme a música. Confome as regras do “estar só”. Conforme a dor. Fechei os olhos acreditando que tudo vai ficar bem. Que vou conseguir dançar outras músicas. “São dois pra lá. Dois pra cá.”

Sobremesa: "Mas é carnaval, não me diga mais quem é você/ amanhã tudo volta ao normal/ deixa a festa acabar, deixa o barco correr/ deixa o dia raiar que hoje eu sou da maneira que você me quer/ o que você pedir eu lhe dou, seja você quem for/
seja o que Deus quiser". (Chico Buarque)

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