27 de dezembro de 2004
"Agora, imediatamente, é aqui que começa o primeiro
sinal do peso do corpo que sobe." (Ana Cristina Cesar)
* Imagem de "Vincent", primeira animação de Tim Burton.
Ambos dispensam comentários ("Vincent" e seu criador)
Degraus
Raquel Medeiros
De vez em quando levo um tropeço
De vez em quando carrego o cansaço.
De vez em quando vejo o fim da escada
De vez em quando não enxergo nada.
De vez em quando sinto solidão
De vez em quando alguém me dá a mão.
E enquanto escrevo continuo subindo
Já consigo até ver a porta do sótão.
Sobremesa: "Parece que há uma saída exatamente aqui onde eu pensava que todos os caminhos terminavam. Uma saída de vida. Em pequenos passos, apesar da batucada." (Ana Cristina Cesar)
25 de dezembro de 2004
Tentei postar uma foto, mas o hello não quis.
Hoje não tem sobremesa. Relevem... nem o prato principal eu consegui fazer...
Desejos Vãos
Florbela Espanca
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!
Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...
Hoje não tem sobremesa. Relevem... nem o prato principal eu consegui fazer...
Desejos Vãos
Florbela Espanca
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!
Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...
21 de dezembro de 2004
"Custa-me a acreditar que se chegue um dia à
demonstração de que somos obra de um ser
supremo e não, como parece, de um ser muito
imperfeito que nos fabricou à laia de passatempo."
(Lichtenberg)
* Foto feita por Win Wenders, que era fotógrafo antes de ser cineasta.
Cada um tem, em seu próprio labirinto, o minotauro que merece
Raquel Medeiros
És imenso
E mais forte que eu
Minha fé já morreu
Desse teu veneno intenso.
E ter que enfrentar
Quando quero fugir
E ter que resgatar
O tão fragil palpitar
Do coração que não pára de partir.
Esperar ou me atirar?
A fumaça do cigarro que nunca encerra
E que não traz resposta ou alento
A esta criatura
Pequena demais pra tanto sofrimento.
Sobremesa: "Avançavam assim pelas páginas/ maldizendo e fascinados/ e a maga terminava sempre por enroscar-se como um gato sobre uma poltrona/ cansada de incertezas." (Julio Cortázar)
13 de dezembro de 2004
Hapless - Edward Gorey
*Adoro demais esse Gorey. Desenhos e textos.
Esse desenho aí em cima é uma "tradução" das minhas últimas semanas...
Tô cansada pra atualizar isso aqui também. Já já eu volto. Mas a minha medida de "já" pode ser diferente da sua...
Inveja daquela que nunca cansa do salto
E nem tem calos no pé
Eu já joguei tudo pra o alto
Inclusive a fé.
(Raquel Medeiros)
Sobremesa: "Abraço rima com cansaço/ mas abraço é bom/ e o cansaço já me tirou o tom". (Raquel Medeiros)
6 de dezembro de 2004
...amor, amigo e riso são as únicas coisas que satis(fazem) o dia.
* O meu melhor e maior abraço pra você, Tiago. =**************
Não esquece
Raquel Medeiros
Não esquece
Que aqui tens a minha melhor palavra
Aquela que vai da minha alma
Pra sua alma.
Não esquece
Que aqui tens o meu melhor sorriso
Aquele que nunca é falso
Ou indeciso.
Não esquece
Que aqui tens o meu melhor abraço
Aquele que construiu tantos laços
Aquele que vence qualquer cansaço.
Não esquece
Que aqui tens a minha mão
Aquela que não deixa cair
Nem o corpo; nem o coração.
Sobremesa: "Mãe é verbo/ é substantivo/ é adjetivo/ é exclamação/ e mesmo que a voz cale/ tudo o que ela disse/ fica na memória/ na alma/ e não tem ausência/ que tire a presença do coração." (Raquel Medeiros)
3 de dezembro de 2004
A vontade que nunca vai embora - A vontade de nunca ir embora.
* Carola e João. Um mês de amor. Dois queridos. Queridos demais. Apaixonados. Que é assim que a vida vale a pena.
E podia ser qualquer um de nós, de vocês. Mas hoje o dia é deles... Beijos. =)
Que a saudade que traz o pranto nunca seja maior que a vontade de ser tanto
Raquel Medeiros
Me dá uma gota da tua saliva quente
Que eu faço um mar
Porque o teu desejo deixa o meu ascendente
Não é chuva que molha somente
É tempestade que faz tudo transbordar.
Me dá um pedaço da tua carne quente
Que eu faço um banquete
Porque o teu desejo deixa o meu ardente
Não é entrada somente
É refeição completa que faz tudo saciar.
Me dá um tempo do teu movimento quente
Que eu faço uma dança
Porque o teu desejo deixa o meu permanente
Não é rebuliço de ancas somente
É uma agitação no corpo e na mente
Que não quer findar.
Sobremesa: "Hoje é dia de arrumar a mala/ pra viajar/ hoje é dia de arrumar a casa/ e colocar a saia rodada/ pra esperar o amor chegar/ no coração a vontade faz morada/ e a saudade vai ficar na passagem comprada/ manda um abraço pra aquela tangerina/ um abraço bem apertado/ pois nunca vi um ser tão amado/ como essa menina." (Raquel Medeiros)
1 de dezembro de 2004
O refrão (in)cansável dos dias
Raquel Medeiros
Mais uma manhã. Ela, sentindo-se aquela mulher que faz tudo sempre igual. Com a diferença que ela não tinha ninguém pra esperar, nem pra beijar-lhe a boca cheia de feijão.
Café fraco e com adoçante. Duas torradas, pra não engordar. Pra quê? Se não tinha ninguém que lhe notasse a evidência das costelas. E se o corpo estava mais leve, o coração pesava mais que uma daquelas grandes melancias.
Faxina na casa e lençóis limpos. Pra quê? Se aquela cama não sentia outro cheiro senão o do amaciante. Fazia tanto tempo que não tocava o corpo de um homem, que sequer lembrava o nome do último. Talvez Haroldo... lembrava de algum Haroldo... lembrança distante. Podia ser alguém com quem deitou. Ou o enfermeiro que aplicou a glicose no seu último grande porre.
Mais uma manhã. Ela sentindo-se aquela mulher que faz tudo sempre igual. Com a diferença que ela não tinha ninguém pra esperar, nem pra beijar-lhe a boca com paixão.
Café fraco e amargo. O adoçante acabou.
A única coisa que não acaba na vida da Sandra é a rotina maçante. E a lembrança distante de um certo Haroldo... que podia ser alguém com quem deitou. Ou o cara do andar de baixo, que levou o resto do seu adoçante.
Sobremesa: "Últimos dias do ano/ Andava no ar uma agitação insólita/ todos indo e vindo/ se encontravam/ se separavam/ Pela manhã/ depois de uma noitada no bar ou em casa de alguém/ Eduardo se interrogava ao espelho/ um dia mais velho/ Que estou fazendo da vida?/ se perguntava, e saía para o trabalho." (Fernando Sabino)
Raquel Medeiros
Mais uma manhã. Ela, sentindo-se aquela mulher que faz tudo sempre igual. Com a diferença que ela não tinha ninguém pra esperar, nem pra beijar-lhe a boca cheia de feijão.
Café fraco e com adoçante. Duas torradas, pra não engordar. Pra quê? Se não tinha ninguém que lhe notasse a evidência das costelas. E se o corpo estava mais leve, o coração pesava mais que uma daquelas grandes melancias.
Faxina na casa e lençóis limpos. Pra quê? Se aquela cama não sentia outro cheiro senão o do amaciante. Fazia tanto tempo que não tocava o corpo de um homem, que sequer lembrava o nome do último. Talvez Haroldo... lembrava de algum Haroldo... lembrança distante. Podia ser alguém com quem deitou. Ou o enfermeiro que aplicou a glicose no seu último grande porre.
Mais uma manhã. Ela sentindo-se aquela mulher que faz tudo sempre igual. Com a diferença que ela não tinha ninguém pra esperar, nem pra beijar-lhe a boca com paixão.
Café fraco e amargo. O adoçante acabou.
A única coisa que não acaba na vida da Sandra é a rotina maçante. E a lembrança distante de um certo Haroldo... que podia ser alguém com quem deitou. Ou o cara do andar de baixo, que levou o resto do seu adoçante.
Sobremesa: "Últimos dias do ano/ Andava no ar uma agitação insólita/ todos indo e vindo/ se encontravam/ se separavam/ Pela manhã/ depois de uma noitada no bar ou em casa de alguém/ Eduardo se interrogava ao espelho/ um dia mais velho/ Que estou fazendo da vida?/ se perguntava, e saía para o trabalho." (Fernando Sabino)
Assinar:
Postagens (Atom)