30 de dezembro de 2005
"Luiza e Tomé", por Henri Cartier Bresson
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Sebastian
Através de um código, Luiza e Tomé sabiam exatamente a hora do encontro. Era sempre numa casinha afastada de onde trabalhavam. Era um casinha simples, de poucos quartos. Tão obstinados que eram, alugaram a casa e reformaram. Ninguém sabia. Só Luiza e Tomé. Colocaram uma cama e um som para satisfazer o lado bom da vida. Luiza fez questão de haver uma cozinha funcional. Tomé exigiu uma pequena adega. Na verdade, não se conteram. Pintavam uma parede, compravam um cd. Compravam uma planta, tiravam fotos e penduravam nas paredes. Ali era como a casa de árvore que toda criança sonha em ter. Um lugar secreto, só deles. E era tudo como sempre sonharam. Mas faziam sem perceber. Pintaram a parede do quarto de leitura de verde. Compraram estante, livros, poltrona, luminária. Panelas, garfos, facas, temperos, geladeira, fogão, bebedouro e até quatro lixeiros (o Tomé é desses preocupados com reciclagem). Compraram guarda-roupas, roupas, lençóis, edredons, algemas, lenços e mais lenços e um cabide lindo. Uma mesinha de madeira, jogos, abajus, pufes, televisão e um pequeno dvd. Depois de uns meses compraram um berço e pararam um de frente para o outro. "Onde estamos?", perguntou Luiza. "De vida feita", respondeu calmamente o Tomé. Luiza deu um sorriso maroto e alisou a barriga.
Sobremesa: "Quando passamos um pelo outro/ tu me dás o prazer de teus olhos, do seu rosto, da tua carne/ e eu te retribuo com o prazer do meu peito, das minhas mãos, da minha barba". (Walt Whitman)
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