Meu primeiro meme (indicado por Igor), e acho que o mais difícil de responder – eleger os 5 discos que me influenciaram ou mais me marcaram. Sou fã de listas, mas 5 é covardia. Injustiças serão inevitáveis, mas admito que foi uma delícia revirar a estante e a memória pra fazer o top 5 da minha vitrola-cachola. O critério foi de ordem cronológica que cada um deles chegou aos meus ouvidos.
Abbey Road – The Beatles (1969)
Eu cresci ouvindo Beatles, meu pai gostava até das versões da Jovem Guarda. Foi difícil escolher um álbum preferido, mas o Abbey Road contém algumas das músicas que mais gosto da banda – “Oh! Darling”, “I want you (She’s so heavy)”, “Something”, “Because” e “She came in through the bathroom window”. Acho até que caberia um top 5 só de discos deles (mas isso é uma opinião de fã. rs).
Ontem vi o musical “Across the universe”. Achei o filme lindo, com uma perfeita escolha de músicas, que passeia por todas as fases do FabFour. Recomendo o filme e, principalmente o(s) disco(s). Há quem discorde, mas pra mim eles foram a melhor banda de rock de todos os tempos.
Life - The Cardigans (1994)
A primeira música que ouvi do Cardigans foi “Rise and Shine”. Um dia, andando no shopping, encontrei esse disco por R$ 14,00. Para não ter dúvidas, pedi pra ouvir. Não foi preciso ir além da primeira faixa - “Carnival” - pra decidir levá-lo. É, com certeza, um dos discos da minha vida. Pop rock cheio de influências sessentistas, marcado pela voz inconfundível da Nina Persson. E, para minha surpresa, lá no finzinho do disco, encontro um belíssimo cover do Black Sabbath, “Sabbath bloody Sabbath”. Os discos seguintes da banda também são adoráveis e bem diferentes deste primeiro. Ainda assim, o Life continua sendo o melhor – em minha opinião. Um disco para ser ouvido num dia de sol. Um disco pra deixar a gente feliz.
Os Afro sambas – Baden Powell e Vinícius de Moraes (1966)
Uma das junções mais perfeitas da música. Baden é um gênio, de uma precisão e honestidade que me emocionam. Esse disco – que não tem nada a ver com a Bossa Nova – marca a passagem (ou seria viagem?) dos dois aos terreiros de candomblé, regadas a doses diversas de uísque escocês. É visceral, pesado. Não há como passar ileso ao violão de Baden ou às letras de Vinícius. Descobri esse disco já adulta (apesar do meu pai ouvir os dois desde a minha infância). E sempre que ouço me soa forte, como se chegasse na alma da gente.
Quando Baden virou evangélico, renegou esse álbum. Se é demoníaco eu não sei, mas “pergunte pr'o seu Orixá, o amor só é bom se doer”.
Bloco do Eu Sozinho – Los Hermanos (2001)
Eu detesto Anna Júlia (até hoje) e relutei ouvir qualquer coisa da banda por culpa dessa música. Mas um dia vendo a mtv (num tempo em que tinha mais música), vi o clipe de “Todo carnaval tem seu fim”. Acho que chorei quando vi aquele confete caindo ao som dos metais. Uns dias depois comprei o disco num site. O universo carnavalesco sempre me deixou nesse misto de alegria e tristeza, e esse disco me soa exatamente assim: me emociona a melancolia das letras mas ao mesmo tempo as melodias me deixam feliz. Mais feliz ainda por ter descoberto essa banda. Fui para todos os shows no circuito Paraíba-Pernambuco, e num deles, consegui levar meus pais (minha mãe adora LH). Os discos seguintes, Ventura e 4 são lindos, mas o Bloco... é meu xodó. Pode dizer que é emo, pseudo-intelectual, o que for. Esse disco pra mim é phoda. E tenho dito, ouvido, cantado... até o apagar da velha chama.
Oh! The Grandeur – Andrew Bird (1999)
A mais nova paixão da estante. Minha irmã me passou uma música dele (não desse álbum). Fui vasculhar (três vivas para a internet!!) e mon petit ami Leo baixou esse disco. O Andrew ganhou esse pseudônimo de “bird” por causa do seu assobio. È formado em música clássica e sabe experimentar sem perder o tom nem a graça. Esse disco é belíssimo, parece música francesa antiga (ele é americano). Um disco pra dançar (no melhor estilo cheek to cheek), ou enlouquecer com a primeira faixa “Candy shop”. Fechem os olhos, se imaginem num daqueles cafés bem charmosos (cabaret também combina muito), peçam uma dose e deliciem-se.
Os meus indicados:
Digs
Fermar
Sobremesa: "Oh honey pie my position is tragic/ come and show me the magic of your Hollywood song". (The Beatles)
23 de abril de 2008
18 de abril de 2008
woman on her way home
matt murphy
Todo dia é primeiro de abril
Pesava pouco mais de 40 quilos, mas ao final do dia, sua alma indicava uns 200.
Acordar era difícil. Levanta, come alguma coisa – quando a náusea está mais amena – toma um banho e sai. Enquanto espera o ônibus pensa “o que estou esperando aqui? O que estou fazendo aqui, esperando?".
Mesmo assim pegava o ônibus e ia para o trabalho.
“Fulano é um ótimo médico, leve seu filho lá”. E Fulano havia sido acusado de pedofilia em 3 das 5 cidades onde morou.
“Essa farmácia é ótima! Credibilidade e qualidade que você só encontra aqui”. Mas o dono – na verdade – era um traficante, que vendia farinha pra evitar filhos e lexotan fantasiado de ass infantil.
“Uma cabeleireira com um olho mágico, 5 minutos e você tem o corte dos seus sonhos”. Na verdade você tem o corte por 5 minutos, depois seus cabelos vão começar a cair.
E depois de tanto mentir por profissão, ela cansava das pessoas que mentiam por vocação. Dava náuseas ouvi-las falar, sentia nojo de olhos recheados de falsidade, de sorrisos que só escondiam a punhalada pelas costas.
O que a confortava é que a sua vida – fora do trabalho – era de verdade. O amor, as amizades (àquelas mais de colo que de copo), o ombro da mãe, a cumplicidade da irmã, o choro, o riso, o abraço, a fome e o fastio, a insônia e o cansaço, a música e a dança.
A dor de mentir não amenizava no final do mês, mas era necessária porque – ao contrário do seu trabalho – suas contas eram todas verdadeiras e não aceitavam mentiras como desculpa!
Ela não tem sonhos de grandeza, o que ela quer mesmo é – num futuro breve – ter o dia mais preenchido com pequenas verdades que com grandes mentiras.
* Os clientes citados são de mentira. Mas que diferença faz?!
Sobremesa: "Na segunda-feira, parte da família foi para os seus respectivos empregos, já que é preciso morrer de alguma coisa". (Julio Cortázar)
11 de abril de 2008
eu quero paz...
Um galho de arruda para aliviar meu coração
Raquel Medeiros
Hoje estou me sentindo cansada, como quando era criança e minha avó dizia “essa menina tá ‘mufina’, se não for doença, é mau-olhado”. A doença não vinha, mas o cansaço não saía. Era uma moleza estranha, uma fraqueza para andar, para viver. Aí vinha minha avó, me rezar com um galhinho de arruda. Depois de umas palavras de amor e fé ditas bem baixinho (porque tem gente que acha que Deus é surdo) era o pobre galho que ficava ‘mufino’.
Em mim, já não havia mais peso... era uma sensação boa e leve. Ela falava com carinho e aquelas folhas percorriam meus braços, minha cabeça, minhas pernas, minhas dores. E ao final, levavam todas elas (as dores) embora pra algum lugar longe de mim.
Era um ritual mágico. Tinha que ser num lugar aberto (pra que a dor não se escondesse debaixo de algum armário, dentro de uma gaveta esquecida aberta). Tinha que ser de dia e, o mais importante, a reza tinha que vir de alguém com o coração cheio de sentimentos bons, e isso ela tinha de sobra...
Minha mãe diz que eu pareço com ela. Era pequena, teimosa, fumante, adorava café e detestava ameixas e mamão.
Costurava uns vestidinhos com um bolso interno, pra não ser assaltada ao sair do banco com sua pequena aposentadoria. Levava rosquinhas sempre que ia lá em casa. Um maço de cigarros para o meu pai e um agrado até para o cachorro. Fazia um cafuné tão bom que a gente fazia fila pra sentar no chão entre as suas pernas. Detestava que a fizessem de boba. Não fugia de briga, nem de festa. Andava sempre cheirosa e pintava o cabelo sozinha, no alto dos seus 86 anos.
Hoje estou me sentindo cansada. Queria uma reza com galho de arruda. Queria aquelas mãos enrugadas me fazendo cafuné.
Sobremesa: "Lembra o tempo que você sentia e sentir era a forma mais sábia de saber e você nem sabia?". (Alice Ruiz)
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