25 de junho de 2008


Valentina de Guido Crepax

Intervalo

Enquanto passa
olhos de dúvida
tentando ler fumaça.

Sobremesa:"Como se pudessem chegar a algum lugar onde elas mesmas não estivessem". (Alice Ruiz)

13 de junho de 2008


morning sun - edward hopper

Para L., com carinho

Tem dias que acordo tão descrente. Não acredito no ‘bom dia’ das pessoas, nem se as nuvens no céu são de chuva. Descreio que Deus exista e que esteja olhando pra mim e por mim lá de cima (logo eu, tão miudinha...). Duvido da preocupação das pessoas no trabalho com a minha saúde. Às vezes sou como São Tomé. Às vezes nem vendo acredito.
Mas o sol arde lá fora e eu sinto na pele. A saudade produz lágrimas e eu sinto no embaço na vista. A dor está aqui, eu sinto no peito. Em isso tudo eu acredito. Às vezes mais do que devia. Mais do que queria.
Hoje eu me senti tão próxima de uma pessoa querida. Pessoa que não vejo há tempos, mas que o meu carinho não diminuiu com a distância e os obstáculos rotineiros. Sinto na alma.
Ela escreveu um texto sobre a perda recente do avô. Mas não escreveu com caneta de lamúria. Isso que mais me tocou. Um texto tão bonito, falando de música, de brincadeira, da mágica que acontece entre avós e netos. Senti a vista embaçar, o peito apertar e uma vontade enorme de dar-lhe um abraço.
Tem dias que eu acordo tão descrente. Mas uma flor, uns sentimentos traduzidos em palavras, pessoas de carne, osso e coração, me fazem acreditar que nem tudo está perdido, a gente é que se perde às vezes. Bom mesmo é se encontrar.

Sobremesa: “A cada mil lágrimas sai um milagre”. (Alice Ruiz)