11 de abril de 2008


eu quero paz...


Um galho de arruda para aliviar meu coração

Raquel Medeiros

Hoje estou me sentindo cansada, como quando era criança e minha avó dizia “essa menina tá ‘mufina’, se não for doença, é mau-olhado”. A doença não vinha, mas o cansaço não saía. Era uma moleza estranha, uma fraqueza para andar, para viver. Aí vinha minha avó, me rezar com um galhinho de arruda. Depois de umas palavras de amor e fé ditas bem baixinho (porque tem gente que acha que Deus é surdo) era o pobre galho que ficava ‘mufino’.

Em mim, já não havia mais peso... era uma sensação boa e leve. Ela falava com carinho e aquelas folhas percorriam meus braços, minha cabeça, minhas pernas, minhas dores. E ao final, levavam todas elas (as dores) embora pra algum lugar longe de mim.
Era um ritual mágico. Tinha que ser num lugar aberto (pra que a dor não se escondesse debaixo de algum armário, dentro de uma gaveta esquecida aberta). Tinha que ser de dia e, o mais importante, a reza tinha que vir de alguém com o coração cheio de sentimentos bons, e isso ela tinha de sobra...
Minha mãe diz que eu pareço com ela. Era pequena, teimosa, fumante, adorava café e detestava ameixas e mamão.

Costurava uns vestidinhos com um bolso interno, pra não ser assaltada ao sair do banco com sua pequena aposentadoria. Levava rosquinhas sempre que ia lá em casa. Um maço de cigarros para o meu pai e um agrado até para o cachorro. Fazia um cafuné tão bom que a gente fazia fila pra sentar no chão entre as suas pernas. Detestava que a fizessem de boba. Não fugia de briga, nem de festa. Andava sempre cheirosa e pintava o cabelo sozinha, no alto dos seus 86 anos.
Hoje estou me sentindo cansada. Queria uma reza com galho de arruda. Queria aquelas mãos enrugadas me fazendo cafuné.

Sobremesa: "Lembra o tempo que você sentia e sentir era a forma mais sábia de saber e você nem sabia?". (Alice Ruiz)

7 comentários:

Unknown disse...

lindo texto... queria tanto ter conhecido ela. queria um galhinho de arruda desse no bolso... =*

Thiago Borges disse...

Oi Raquel!
Obrigado pelos comentários e elogios!!!
heheheheheh

É assim mesmo, sempre estamos aí pra ter que aguentar certos tipos de figura em qualquer coisa que façamos em nossas vidas!

Mais tarde eu dou uma lida melhor no teu blog, pq agora to saindo

bjos

Anônimo disse...

vc eh danada, consegue fixar e imprimir um estado d espírito \o/ eu fico besta =)


=*

Rilma Medeiros disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rilma Medeiros disse...

De olhos marejados li esse texto, e é impressionante como você a descreveu tão bem, ela era assim mesmo...E deu uma saudade latejada agora, dos afagos, das risadas, das respostas ditas na lata e do senso de humor.Ela faz falta.
E acho que iria gostar de Toquinho também. E ele muito mais dela, tenho certeza.(falo isso porque lendo esse texto cheguei a ouvir nitidamente ela a chamar Pippen de "baixinho",e eu achava a coisa mais linda do mundo).

Igor disse...

um post tão bonito, Raquel!

Simples, como um galho arruda.

Frase de autoria própria, mas muito contextualizada nesse teu post: "A gente é o que a gente carrega. Mas a gente é, ainda mais, o que a gente deixa pelo caminho."

Bjos!

Lorena Travassos disse...

minha vó me dava pinhas de presente e falava baixinho a resposta da tabuada, qd minha mae me botava de castigo pra estudar. Ela não me rezava, mas qd ela aparecia eu já sorria e esquecia dos problemas.
Mas eu também to cansada, quero um galhinho de arruda, ou quem sabe uma folhinha quase murcha, pra tentar diminuir as coisas aqui por dentro.
E queria também um livro teu, qd tiver pronto.
beijos de sombra do pé de jambo do quintal da minha vó.
=*