22 de março de 2005


Podia até camuflar o amor, mas não escondê-lo.

Bilhete de ousada donzela
Adélia Prado

Jonathan,
Há nazistas desconfiados.
Põe aquela sua camisa que eu destesto
- comprada no Bazar Marrocos –
e venha como se fosse pra consertar meu chuveiro.
Aproveita na terça que meu pai vai com minha mãe
visitar tia Quita no Lajeado.
Se mudarem de idéia, mando novo bilhete.
Venha sem guarda-chuva – mesmo se estiver chovendo –
não aguento mais tio Emilio que sabe e finge não saber
que te namoro escondido e vive te pondo apelidos.
O que você disse outro dia na festa dos pecuaristas
Até hoje soa igual música tocando no meu ouvido:
“Não paro de pensar em você.”
Eu também, Natinho, nem um minuto.
Na terça, às duas da tarde,
Hora em que se o mundo acabar eu nem vejo.

Com aflição,
Antônia

Sobremesa: "A minha Casa é guardiã do meu corpo/ e protetora de todas minhas ardências/ e transmuta em palavra/ paixão e veemência/ e minha boca se faz fonte de prata/ ainda que eu grite à Casa que só existo/ para sorver a água da tua boca." (Hilda Hilst)

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