28 de março de 2005
Um homem chamado Alfredo
Na queda, a tristeza existe...
Raquel Medeiros
Entre o último gole do café frio e o banho antes de dormir, o telefone tocou três vezes.
Engano. Engano. Engano.
Nem lembrava porque tinha telefone.
Sem família. Sem amigos. Sem credores.
Na cama, deitado. Olhar triste sem cúmplice.
Desejou que sua vida inteira passasse naquela noite. Seria encontrado morto de velhice.
Sem despedidas. Sem choro. Sem lembranças.
Mas nem isso Deus faria por ele. Teria que criar coragem para dar um fim aquela espera.
Esperou a vida. Esperou o amor. Esperou a compaixão.
A morte ele mesmo foi buscar.
... na subida, a tristeza insiste.
Sobremesa: "Eu sempre o cumprimentava/ porque parecia bom/ um homem por trás dos óculos/ como diria Drummond/ num velho papel de embrulho/ deixou um bilhete seu/ dizendo que se matava/ de cansado de viver/ embaixo assinado Alfredo/ mas ninguém sabe de quê." (Toquinho e Vinicius de Moraes)
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