20 de maio de 2005
Bells whistles - Yuko Shimizu
Embriaga-te
Charles Baudelaire
Deve- se estar sempre bêbado.
É a única questão.
A fim de não se sentir o fardo horrível do tempo,
que parte tuas espáduas e te dobra sobre a terra.
É preciso te embriagares sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude?
A teu gosto, mas embriaga-te.
E se alguma vez sobre os degraus de um palácio,
sobre a verde relva de uma vala,
na sombria solidão de teu quarto,
tu te encontrares com a embriaguez já minorada ou finda,
peça ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo aquilo que gira, a tudo aquilo que voa,
a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo que fala, a tudo aquilo que geme.
Pergunte que horas são.
E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, te responderão.
É hora de se embriagar !!!
Para não ser como os escravos martirizados pelo tempo, embriaga-te.
Embriaga-te sem cessar.
De vinho, de poesia ou de virtude.
A teu gosto.
Sobremesa: "De fato, o ódio é um licor precioso/ um veneno mais caro que os dos Borgia/ pois é feito de nosso sangue/ nossa saúde/ nosso sono/ e de dois terços de nosso amor!/ devemos ser avaros com ele!" (Conselho aos jovens literatos - Charles Baudelaire)
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