28 de janeiro de 2008
people in the sun - edward hopper, 1960.
Música para um dia de verão.
"Quando penso nos amores virtuais
Nas maquininhas digitais
Fico sem saber como fazer pra me convencer
O genoma e os neurônios saltitantes
Ficam alegres e falantes
O futuro até parece com uma patada de elefante
E a natureza serve só para combustível
E tudo o que deixamos queimar, sem se importar
Parece que perdemos o senso e o juízo
E agora o mundo vai se esquentar".
(futurismo - kassin +2)
Pra quem quiser ouvir mais dos moços.
http://www.myspace.com/morenodomenicokassin2
Sobremesa: qualquer picolé de fruta, de preferência com um ipod dentro. ;)
24 de janeiro de 2008
Room by the sea - Edward Hopper 1951
Eu que não esqueço
Raquel Medeiros
Eu não passo naquela rua do Cabo Branco sem lembrar do seu all star verde, das suas malas de madeira, dos retratos e desenhos em preto e branco, das viagens em terra, das descidas até o chão, dos goles, das risadas, dos abraços, das lágrimas, do pão de queijo, de ver o sol descer e a lua nascer do alto do prédio, do cheiro de incenso, da imagem de São Francisco de Assis, do aparelho de dvd que nunca funcionava, das mulheres de Chico, da angústia de Clarice, do cinzeiro-ninho das nossas fobias, dos tragos debaixo do jambeiro, das xícaras de café com açúcar, afeto e um silêncio cúmplice, do banho de mar-que-afasta-uruca que nunca tomamos e dos encontros e desencontros dos quais não escapamos.
Eu sinto tanta saudade que a memória às vezes falha, e cria histórias que não contamos e fatos que não vivemos.
Eu não passo naquela rua do Cabo Branco sem lembrar de mim.
Sobremesa: "Once there was a way, to get back home". (The Beatles)
11 de janeiro de 2008
Maria tinha uma pedra, um sapato e um caminho.
No meio do caminho a pedra entrou no sapato
e Maria nunca alcançou o céu. (Raquel Medeiros)
Strangers in the night
Raquel Medeiros
Quando eu e Julio nos encontramos na solidão do quarto, somos amantes contrários. Ele chega com a calma, sem a pressa de responder minhas perguntas (e são tantas!), com uma tranqüilidade admirável e intrigante. Eu chego com a ansiedade (as mulheres no geral sempre querem que o dia chegue à véspera), com a náusea a ser curada, com o vazio a ser preenchido. Mas chegamos os dois, assim como Oliveira e a Maga, sem nos procurar, mesmo sabendo que deveríamos e que vamos (inevitavelmente) nos encontrar.
Eu sigo suas indicações e me emociono “como pode um estranho saber tanto de mim?”. Da desordem que começa na minha bolsa e que se estende às questões sentimentais. O Julio sabe que o único caminho certo é o do sangue nas veias, e que todo o resto se move como num jogo de amarelinha. Um chão riscado, uma pedra na mão e fé no passo – onde quer que ele nos leve. Encontraremos o céu?
Sobremesa: "E, se nos mordermos, a dor é doce/ e, se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela/ E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura/ e eu te sinto tremular contra mim, como uma lua na água". (Julio Cortázar. O Jogo da Amarelinha, capítulo 7).
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