22 de junho de 2004

Rascunho
Raquel Medeiros

Resolvi retocar meu rascunho de vida. Difícil... Comecei pelos pés que já não andam tão bem como antigamente – costumavam pisar mais firme. As pernas já não me obedecem, dançam tango ao invés de ballet. O estômago...embrulhado como ele só, nem água agüenta. Os braços cansados, nem abraço dão mais.
Quando fui ao coração, tinha tanta coisa pra retocar que desisti. A cabeça, então, nem se fala. Apaguei tudo e vou começar de novo. Desenhar outra vida que não essa. Desenho de verdade, porque não dá pra ficar o tempo todo rascunhando. Mas hoje não tem clima. Amanhã talvez eu comece. Hoje, não existo.

Sobremesa: "E essa vida é uma atriz/que corta o bem na raiz/e faz do mal cicatriz/Vai ver até que essa vida é morte/e a morte é a vida que se quer". (Refém da Solidão - Baden Powell e Paulo César Pinheiro)

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