4 de abril de 2006



Little red riding hood in ribbon - Shimizu

Fragmentos do vazio
Raquel Medeiros

... A maldita quadrilha de Drummond: ela-que-amava-ele-que-amava-outra. Nunca foi boa com escolhas. Nem as roupas (listras com bolas, xadrez com losangos); muito menos com homens. Se um a espancava de um lado; o outro nem lhe dava a chance do amor. Do recomeço.

Resolve pegar o trem sozinha, pois assim nasceu, e assim haveria de morrer. Mesmo que o outro lado cama não esteja vazio. Tem gente que vem ao mundo e sai dele sem conhecer o tal amor, aquele que é feito de doação, cuidado e zelo. Ela só conhecia o amor da renúncia. Sempre por parte dela. E só.

Entra no vagão. Este está tão vazio quanto as esperanças que ela carrega. Na bolsa, um espelho no qual nem tem coragem de ver refletido o trapo em que se transformou. Um batom gasto e uns poucos trocados. Doses homeopáticas de uma vida que ela escolheu mal. Doses cavalares de um vazio que a escolheu.

Sobremesa: "Tudo pisado, tudo partido/ tudo no chão jogado/ e em cada canto/ teu desencanto/ tua melancolia/ teu triste vulto desesperado/ ante o que eu te dizia/ E logo o espanto e logo o insulto/ o amor dilacerado/ e logo o pranto ante a agonia do fato consumado." (Vinícius de Moraes)

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