6 de maio de 2004

Crime de amor
Raquel Medeiros

Algemaram-no. Ele não esboçou nenhuma reação. Caminhava com a cabeça baixa. Pensativo.
Na porta da delegacia havia repórteres e curiosos. Todos consternados. “Um crime realmente hediondo” – disse um repórter. “Onde já se viu? Arrancar os olhos de alguém!” – dizia um dos passantes. “É um monstro!” – vociferava uma senhora, com as compras na mão.
Dentro da delegacia, o delegado olha pra ele.
- Por que você fez isso? Como pôde?
- Eu a amo, e por isso o fiz.
- Mas por que? Arrancar os olhos de sua esposa!
- Não queria que ela olhasse para ninguém.
- Que ciúme doentio! Você é realmente um monstro! O que me impressiona é você ter-se entregado. Segundo sua esposa, você era um ótimo marido. Jamais desconfiariam de você. Além do mais, ela está cega, não poderia fazer o reconhecimento da maneira convencional.
- Foi justamente por isso que me entreguei, delegado. Já pensou? Minha esposa tateando rostos de homens para descobrir qual deles arrancou-lhe os olhos? Não, delegado, eu não agüentaria isso.

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