28 de maio de 2004

In pieces
Raquel Medeiros

Me sinto um dedo cortado, separado do corpo. Não tenho função.
Ouço algumas frases ao longe. Algo sobre linguagem. E a única linguagem que consigo absorver é a da minha dor. Signos de tristeza com significados desesperados, desesperadores. Ouço com tanta clareza e num volume tão absurdamente alto que meus tímpanos doem. Temo que eles estourem.

Agora minha pele estica. A qualquer momento pode romper-se e me transformar em mil pedaços. Pequenos pedaços, difíceis de montar. Onde fica a cabeça? Onde coloco este outro pedaço? E meu coração, em quantos caquinhos está?
Monto devagarzinho. Colando com cuidado, mas firmemente. E quando acho que estou perto de me ver inteira, vem você e desmonta tudo novamente.

Sobremesa: "Rest in peace and me in pieces
Rest in me, in peace". (In pieces)

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