18 de outubro de 2004
..."olhos são mais dados a segredos". (Paulo Leminski)
Nada aqui é meu, com exceção da sobremesa e do sinal... o desenho é de Rafael Queiroz... a legenda é do Paulo Leminski... o prato principal é de Julio Cortázar...
"Me olhas, de perto me olhas, cada vez mais de perto e, então, brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam entre si, sobrepõem-se e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se nos teus cabelos, acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E, se nos mordemos, a dor é doce; e, se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu te sinto tremular contra mim, como uma lua na água..."
Sobremesa: "E nesses olhares infinitos/ nessas reticências falantes/ ele mergulhou dentro dela, e tirou uma grande âncora/ fincada num dos abismos dos amores de antes". (Raquel Medeiros)
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