20 de agosto de 2004

Black letter day
Raquel Medeiros

Esta é um carta triste. Triste porque assim estou eu. Triste por saber que devo fazer algo, mas tenho as mãos atadas. Revejo os fatos e reparo, tal qual o pensamento do poeta inglês, Blake: "quem deseja, mas não age, gera a pestilência". Eu acrescento: fica cada dia mais triste.
A tela de um computador frio fita-me sem graça. Ele é minha ponte a quem desejo. A todo momento borro a tela com palavras buscadas a esmo. Tento fazer, ao mesmo tempo em que me acho, uma poesia singela nestas poucas linhas pra te encantar. Não consigo rimar poesia com alegria, só com melancolia. A dor é fria, fria.
Nos dias frios, melhor seria não nascer; parece que foram feitos para se amar. Para se contar rugas de expressão formadas em cada sorriso bobo a frente do espelho. Tristeza? Não, confiança num dia ensolarado que vem após a tempestade. Até prefiro o inverno ao verão, mas de vez em quando sinto necessidade de dar um banho de sol nas roupas, na alma.
Essa carta está prolixa. Temerosa e instável, como a vida. Queria conseguir organizar as idéias de maneira simples. Porque sei que, apesar da complexidade do dia, é na simplicidade que está a verdade.

Sem sobremesa.

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