30 de setembro de 2004

Texto antigo, porque a inspiração não tem vindo me visitar esses dias... =)

Espera
Raquel Medeiros

Ela só queria que ele aparecesse. Não queria um beijo ardente. Nem pedido de casamento. Nem um casal de filhos. Nem casa de praia em Majorca. Só queria que ele aparecesse. Afinal de contas, havia colocado roupa nova. Sapato alto. Esmalte e batom vermelhos. Seria muita desfeita...
Sentada num bar, sozinha. Pediu uma cerveja. Pediu um cigarro ao rapaz na mesa do lado. Nem fumava, mas ajudava a passar o tempo. “Garçom, outra cerveja, por favor!”. E assim ela ficou durante algumas horas. Pedindo cerveja ao garçom; cigarro ao rapaz da mesa ao lado.
Ele não veio. Ela já estava sem os sapatos. A roupa nova manchada de cerveja. Batom borrado. Unhas vermelhas ruídas.
Voltou pra casa querendo quebrar o relógio. Queimar o calendário. Era seu aniversário.
Na manhã seguinte, uma ressaca das grandes. Decidiu comprar um jornal, “sempre tem alguém que teve uma noite pior que a sua”. Foi até a banca, comprou o jornal e uma carteira de cigarros. O senhor da banca disse “moça, cigarro mata”. “Não” – disse ela - “o que mata é esperar”.

Sobremesa: "Meu coração não se cansa/ de ter esperança/ de um dia ter tudo o que quer/ meu coração de criança/ não é só lembrança de um vulto feliz de mulher". (Caetano Veloso)

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